Luis Fernando Veríssimo, um dos escritores
brasileiros mais importantes, nasceu em Porto Alegre, em 1936. No ano de 1969 o
jornal Zero Hora, começa a publicar as suas crônicas. Nesse mesmo ano
começou a trabalhar para a MPM Propaganda, como redator de publicidade.
Mais tarde suas crônicas são publicadas nos jornais O Estado de São Paulo,
Jornal do Brasil e Zero Hora.
Publicou algumas dezenas
de livros: O popular (J.Olympio, 1973), Ed Mort e outras histórias
(L&PM, 1979), O analista de Bagé (L&PM, 1980), A velhinha de
Taubaté (L&PM, 1983), Aventuras da Família Brasil (quadrinhos,
L&PM, 1985), O marido do doutor Pompeu
(L&PM, 1987), O suicida e o computador (L&PM, 1992), Comédias
da vida privada (L&PM, 1994),
Américas (Artes e Ofícios, 1994), entre outros.
L. F. Veríssimo foi
homenageado com o Prêmio Scopus pela Sociedade Brasileira de Amigos da
Universidade Hebraica de Jerusalém, em novembro de 2011, em evento no Buffet
França, em São Paulo. A honraria foi entregue ao escritor por Arnaldo Niskier,
membro da Academia Brasileira de Letras.
Segue o conto A
comadre, de Luis Fernando Veríssimo (In O marido do doutor
Pompeu/Luis Fernando Verissimo. 2ª ed. Porto Alegre: L&PM, 1987, p.
119-120):
[ESPAÇO DA CRÔNICA]
A COMADRE
( LUIS FERNANDO VERISSIMO )
O veraneio terminou mal. A ideia dos dois casais
amigos, amigos de muitos anos, de alugarem uma casa juntos deu errado. Tudo por
culpa do comentário que o Itaborá fez ao ver Mirna, a comadre Mirna, de biquíni
fio dental pela primeira vez. Nem tinha sido um comentário. Mas um som
indefinido.
– Omnahnmon!
Aquilo pegara mal. A própria Mirna sorria sem
jeito. O compadre Adélio fechara a cara, mas decidira deixar passar. Afinal era
o primeiro dia dos quatro na praia, criar um caso naquela hora estragaria tudo.
Eram amigos demais para que um simples deslize – o som fora involuntário, isto
era claro – acabasse com tudo. E, ainda por cima, a casa já estava paga por um
mês.
Naquela noite, no quarto, a Isamar pediu
satisfação ao marido.
– Pô, Itaborá. Qual é?
– Não pude controlar, puxa.
– Na cara do Adélio!
– Eu sei. Foi chato. Mas saiu. Que eu posso
fazer?
– Nós conhecemos a Mirna e o Adélio há o quê?
Quase dez anos.
– Mas eu nunca tinha visto a bunda da Mirna.
– Ora, Itá!
– Não entende? A gente pode conviver com uma
pessoa dez, vinte anos, e ainda se surpreender com ela. A bunda de Mirna me
surpreendeu, é isso. Me pegou desprevenido.
– Vai dizer que você nunca nem imaginou como era?
– Nunca. Juro. Nem me passou pela cabeça. E de
repente estava ali, toda. Toda ali.
– Pois vê se te controla.
Pelo resto do veraneio o Itaborá fez questão de
nem olhar para o fio dental da comadre. Quando os quatro iam para a praia, se
apressava para caminhar na frente. Se por acaso as nádegas da comadre passassem
pelo seu campo de visão, olhava para o alto, tapava o rosto com o jornal,
assobiava.
Um dia, o Itaborá e o Adélio sentados no quintal,
a Mirna recém-servira a caipirinha, de biquíni, e se dirigia de volta para
casa, e o Itaborá suspirou.
– O que foi – perguntou o Adélio, agressivo.
– Essa política econômica – disse o Itaborá. –
Sei não. Não levo fé.
– Ah – disse o Adélio.
Até o fim do veraneio ficou aquela coisa chata
entre os quatro. O Itaborá não podia tossir que todos o olhavam, desconfiados.
* * *
kkkkk, essa crônica eu não conhecia! Pô, coitado do Itaborá, mas também, né... pra lá e pra cá e o cara não pode olhar!!
ResponderExcluirGrande Verissimo!
beijinhos!
Esse é o nosso grande Luis Fernando Verissimo!
ExcluirUma pergunta, Taisinha: conheces algum brasileiro (ou estrangeiro) com esse talento?
Beijinhos.
Caro Marcos,
ResponderExcluirVou pensar na possibilidade de participar do Primeiro Concurso de Poesias, "Pena de Ouro" do Blog do Bicho do Mato.
Obrigado pelo convite.
Um abraço.
adorei
ResponderExcluirObrigado, Ana Sophie.
ExcluirVolte mais vezes.
Abraços.