22 de jan. de 2013

ALBERT CAMUS – Cartas a Um Amigo Alemão


[PEDRO LUSO DE CARVALHO]


No ano de 1940, a França foi tomada pelas tropas alemãs, de Adolf Hitler. No ano seguinte, Albert Camus ingressava no Movimento da Resistência. Sobre a Resistência, Jean-Paul Sartre viria escrever mais tarde:

“Nada do que eu esperava durante esse tempo (a ocupação) a França – com exceção do Movimento de Resistência – nem sempre demonstrou grandeza de conduta. Mas é preciso lembrar que a resistência ativa tinha de limitar-se, forçosamente, a uma minoria. E eu creio que essa minoria, ao aceitar o martírio conscientemente e sem esperança, mais do que redimiu a nossa fraqueza”. [Sartre, resistente, em France, Libre, 1944].

Nesse período, do qual se refere Sartre, os alemães ocuparam Paris no período que compreende o dia 14 de junho de 1940 ao dia 25 de agosto de 1944. Quanto a Camus e sua atuação, na França, esta sob o domínio da Alemanha, o escritor ingressou no Movimento de Resistência em 1941, tendo como suas atribuições a atividade de jornalista e de coordenador de um setor de informações militares, vinculado ao grupo “Combat”. Assim, Camus passa a viver, em parte, na clandestinidade, tendo os cuidados a ela inerentes, tais como: reservas, cautela, astúcia, aparentes normalidades, etc.

Inspirado nesse período, em que a França esteve entregue às forças alemãs, Camus escreveu Cartas a um amigo alemão (“Lettres a une ami allemand”), em 1945; e “Atuais. Crônicas da atualidade” (Actuelles), em 1950; o livro, com as duas peças, foi originalmente publicado em Paris pela editora Gallimard.

Segue trecho de A primeira carta, de Albert Camus (in Camus, Albert. Cartas a um amigo alemão, Tradução de José Carlos Gonzáles e Joaquim Serrano. Lisboa: Edição Livros do Brasil – Lisboa, p. 26-28). [Original: Editions Gallimard, 1945 e 1950].


[CARTAS A UM AMIGO ALEMÃO]


                                        PRIMEIRA CARTA (trecho)
(Albert Camus)


[...] Tivemos que vencer a nossa estima pelo homem, a imagem que tínhamos de um destino pacífico, a convicção profunda de que nenhuma vitória é lucrativa, ao passo que a mutilação do homem não tem remédio. Foi-nos preciso renunciar, simultaneamente à nossa sabedoria e à nossa esperança, às razões que tínhamos de amar e ao ódio que votávamos a todas as guerras. Numa palavra, e espero que você me compreenda, vindo como vem de uma pessoa a quem você gostava de apertar a mão, fomos obrigados a amordaçar a nossa paixão pela amizade.

Agora, o fato está consumado. Foi-nos necessário tatear longamente o terreno, e atrasamo-nos. É o desvio que o pudor da verdade obriga a fazer à inteligência, e o pudor da amizade ao coração. Foi o desvio que salvaguardou a justiça, colocando a verdade ao lado daqueles que se interrogavam. E não há dúvida de que o pagamos bem caro. Pagamo-lo com as humilhações e os silêncios, com amarguras, com prisões, com madrugadas de execuções, com abandonos, com separações, com a fome quotidiana, com crianças desnutridas e mais do que tudo, com penitências forçadas. Mas tudo isso estava certo. Precisávamos de todo esse tempo para saber se tínhamos o direito de exterminar outros homens, se nos era permitido aumentar a miséria atroz deste mundo. E é esse tempo perdido e reencontrado, essa derrota aceite e ultrapassada, esses escrúpulos pagos com o sangue, que nos dão hoje o direito, a nós, franceses, de pensar que entramos nesta guerra com as mãos limpas – com a pureza das vítimas e dos convictos – e que vamos sair dela com as mãos limpas – mas, desta vez, com a pureza de uma grande vitória obtida contra a injustiça, e contra nós próprios. [...]

Julho 1943



           *  *  *


2 comentários:

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